sábado, 18 de julho de 2009

O retorno

Mesmo que ainda hesitante, resolvi atravessar o portão de entrada, o silêncio me sufocava como se me apertassem violentamente a garganta. Mas resisti e entrei na propriedade que outrora pertencera a minha família. Percebo então que tudo estava mudado, ou ao menos me parecia, as árvores eram agora mais altivas e seus grossos galhos sugeriam-me braços disformes e repletos de sulcos tomados de um desamor secular. Somado a tudo isto, o cheiro de mofo que emanava das paredes encardidas fazia-me viajar no tempo. Para minha infância que ressurgia como um alienado que busca em desespero por algum resto de ar nas profundezas de um lago, que chamam passado, que chamarei solidão. Então vejo o futuro nas cinzas do cigarro de uma cigana, que sentada no canto da escada, mostra-me uma carta, aponta-me o dedo e sorri, para meu desespero, ela sorri, ela gargalha e eu flutuo num último suspiro. Então, agora um velho desce as escadas e percebo que em seus braços trêmulos, carrega uma criança.

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