sexta-feira, 17 de julho de 2009

Assim vive um neurótico

As pessoas organizadas precisam ter tudo sob controle, pois isto é parte de sua natureza, sejam os livros na estante, seja a hora do almoço. Mas infelizmente não pertenço a esta classe de seres. Ou melhor, parece que sou o inverso dela, pois, tudo me escapa, os objetos se escondem e, sobretudo, os pensamentos, estes sim me deixam louco, com sua mania insuportável de driblar meu domínio.


Mas, certas coisas preciso manter tuteladas, como por exemplo, o ano em que estou vivendo, preciso saber disto, caso contrário não poderei varrer os abismos diariamente. E eles precisam ser varridos, acredite.


Assim vive um neurótico (lá, lá, lá...)

Se não posso ser o Edgar Allan Poe, posso ao menos ser eu mesmo, mas um pouco melhor que ontem, e isto já é muito, tendo em vista o montante de entulho do além, que recebo diariamente. Mas vou sobreviver, agora mais do que nunca, preciso, tenho, quero. Será? Sim! Pois aquele que veio de mim é o mais importante. E seu sangue quente é meu, e será de outros. Preciso ter fé, se não nos deuses, ao menos nesta força que desconheço. Podem até ser eles brincando comigo, estes deuses são foda.


Destilar veneno e caminhar calmamente, não são exatamente contraditórios. Eu, tu, nós eles...



Assim vive um neurótico (lá, lá, lá...)


Limpar é preciso! A nação, o coração, a bunda do cachorro. Sim, senhores! eu tenho minhas prioridades higiênicas, é verdade. Mas uma coisa é certa, a televisão não usa o tubo de imagem para respirar. Já quanto á mim, não ofereço garantia de nada, não sou fiador de ninguém. Se quiser me amar, problema seu. Eu sigo me esquivando da responsabilidade, mas se tiver que comparecer, vou, mas apenas de corpo presente. Minha mente? Esta já doei as ciências ocultas, ao saberes indizíveis, então, me deixem surtar em paz.


Assim vive um neurótico (lá, lá, lá...)

Comecei a contar os pássaros negros, que diante do crepúsculo, voavam organizadamente, como um samurai que limpa hermeticamente sua espada antes do harakiri. Mas cansei de contá-los, sou volúvel, ou melhor, uma completa besta. E ainda por cima, destruo toda ajuda possível, para mim a auto sabotagem é quase uma arte.



Assim vive um neurótico (lá, lá, lá...)


O amor é uma forma de extremismo? Sei lá, mas acho que sim. Se até Jesus afirma que me ama, então, como posso pensar em algo diferente? Se bem que Jesus nunca me disse isso pessoalmente, foram seus “mensageiros” na terra. Mas como se pode discutir com alguém tão representado, coitado, deve estar assinando toneladas de papéis. Pensando bem, deve ser uma dor de cabeça ser Deus. Ter que estar em toda parte, ter que ouvir tanta gente chata e o tempo todo. Putz! To fora.


Assim vive um neurótico (lá, lá, lá...)



Entre mim e minha morte, existe apenas um ponto final. E por mais que eu me agarre desesperado as janelas, o dia vai nascer, então, o joio vai novamente se misturar ao trigo. E a promessa que fiz... Cristo! O que faço com ela? No momento, o mais prudente seria me calar, esperar o sol reanimar as uvas, e tragar a vida lentamente, apenas.

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