sábado, 25 de julho de 2009
Era uma vez um homem
Quando acordei, abri os olhos como faço habitualmente todos os dias, porém mesmo com os olhos abertos tudo continuava escuro, então procurei o abajur e para meu espanto esbarrei em uma pessoa. “Quem é você?” perguntei, e depois de alguns segundos de silêncio ela me disse seu nome. “E o que faz em minha casa?” “Quem disse que você está em sua casa?”, gelei e minha voz sumiu. Percebendo, ela tentou me acalmar dizendo que o mesmo também lhe ocorrera: um dia acordara e estava neste lugar em que nos encontrávamos agora. “Mas que lugar é este?” perguntei. “Faz um mês que estou aqui, no escuro total, já aprendi a me guiar e localizar os lugares onde nos deixam diariamente comida e água e também já observei que isto é feito sempre no mesmo horário, tento entender o porquê, aliás, gostaria de compreender o que exatamente estou fazendo aqui neste lugar escuro. Às vezes ouço outras vozes, tento segui-las, mas em vão, elas rapidamente se dissipam e tudo volta ao mais profundo silêncio e torpor, apenas o som de minha respiração, pois estando privado da visão passei a voltar minha atenção aos menores ruídos e especialmente aos sons do meu próprio corpo e confesso que nunca imaginei serem como são e, de certa forma, mesmo estando à beira da insanidade me sinto quase livre, já não sinto medo nem culpa, as perguntas sumiram como por encanto. Sinto-me vazio, desobstruído e confortável como uma criança no útero mãe. Não sei mais há quanto tempo estou aqui, mas isso já não tem a menor importância, pois sinto uma paz que nunca senti, agora posso sentir todo meu corpo pulsar e ouvir os deliciosos ruídos de meu corpo se transformando em pó.
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